Gilberto Jardineiro
Meu nome é LX200 Classic, fui criado
na linha de produção de uma fábrica de instrumentos, minhas lentes e espelhos são
a minha alma e coração e quando vi a primeira luz de uma estrela passar pelo
meu eixo ótico, descobri que o universo era meu território e destino para fazer
a alegria dos homens. Embalado cuidadosamente, em viagem longa atravessei o hemisfério
e fui levado às mãos cuidadosas de um avô no alto das montanhas de Campos do
Jordão. Na minha chegada fui acolhido com muita alegria, orgulho e expectativa.
Como membro da primeira geração de instrumentos robotizados, sou capaz de identificar,
localizar e apontar milhares de astros e estrelas no céu e sei onde cada
planeta está a cada momento, em qualquer época. Lá, servi por bom tempo e aos
poucos fui descobrindo as maravilhas do céu do hemisfério sul, nas mãos hábeis
e sedentas de conhecimento do meu amo e dono.
Transportado, subi outra montanha, da caixa fui
colocado num saco preto de plástico, encostado num canto de um depósito de
tranqueiras. Esquecido, cego, sem espelho secundário, sem controle manual e sem
a companhia dos acessórios, aos poucos fui sendo coberto pelo pó e achei que
tudo tinha se acabado.
Quando saí do saco preto e minha poeira começou a ser retirada, percebi que estava sendo cuidado por mãos amigas, que sabiam me tratar. Novamente na caixa, novamente na estrada e quando percebi, estava em ambiente conhecido, cheio de imagens de astros e estrelas nas paredes, telescópios no saguão, a ficha caiu, eu estava num observatório!
Quando saí do saco preto e minha poeira começou a ser retirada, percebi que estava sendo cuidado por mãos amigas, que sabiam me tratar. Novamente na caixa, novamente na estrada e quando percebi, estava em ambiente conhecido, cheio de imagens de astros e estrelas nas paredes, telescópios no saguão, a ficha caiu, eu estava num observatório!
Até que um dia acordei de verdade, enxergando tudo, meu espelho secundário refeito e instalado, eixo ótico colimado, eletrônica restaurada, acessórios e controle manual disponíveis, pronto para reencontrar o universo.
Caixa, última viagem, montanha, ar
puro e transparente, céu escuro forrado de estrelas, instalado a céu aberto
numa plataforma em Cunha, quando a primeira luz da Lua passa pelos meus
espelhos e percorre o eixo ótico até o plano focal, percebo que agora estou em
casa, de volta à vida, na companhia das estrelas, planetas e maravilhas do
universo. De volta ao meu destino, para a alegria dos homens. Lar doce lar!
Gilberto
Jardineiro, astrofotógrafo e astrônomo amador
- execução de projeto, texto e fotos
Adilson
Fernandes Dias, engenheiro
- restauro eletrônica, calibragem e manutenção,
fotos eletrônica
Pedro
Francisco Lavado Hidalgo
- confecção espelho secundário e
alinhamento placa corretora
Silvio
Fazolli, engenheiro
- produção e apoio
Alexandre
Rebouças
- proprietário