AstroClubeCunha

AstroClubeCunha

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Cometa, Estrelas e Galáxias

Cometa Johnson - Parte I
Está passando por aqui, no começo da noite no alto de nossas cabeças, sob  um céu de inverno estrelado, entre Júpiter e Arcturus, um visitante distante, o Cometa  C/2015 V2 Johnson, vindo das profundezas do sistema solar, provavelmente da Nuvem de Oort, em órbita hiperbólica que o levará para o meio interestelar. Descoberto em Novembro de 2015, passou pelo periélio em 12 de junho e com magnitude 7.5 está fora do alcance da vista desarmada e não se espera que seu brilho aumente. Em oposição, uma cauda, se houver, está invisível atrás do cometa.
Na primeira sessão de fotos na noite de 17 de junho, o cometa foi flagrado cruzando um campo estrelado, passando perto de 4 galáxias, em 9 imagens de 4min30seg cada, totalizando 40minutos e 30segundos de exposição, iso800, empilhadas na foto acima no cometa e na foto abaixo, empilhadas com estrelas como ponto de alinhamento. 
O negativo da imagem identifica os astros presentes na imagem com a trajetória pontilhada do cometa durante o tempo total de exposição
NGC 5569 é uma galáxia espiral barrada (SBc) localizada na direção da constelação de Virgo. Faz parte, juntamente com NGC 5566 e NGC 5560, de um trio de galáxias que interagem gravitacionalmente, denominado Arp 286
NGC 5577 é uma galáxia espiral (Sbc) localizada na direção da constelação de Virgo, descoberta em 26 de Abril de 1849 por William Parsons


quinta-feira, 15 de junho de 2017

Estrelas do Polo Sul
Para fotografar astros e estrelas é necessário longo tempo de exposição e sensibilidade alta para a captura dos poucos fótons que chegam de objetos distantes, galáxias, nebulosas, aglomerados, e se acumulam no sensor da câmera, formando a imagem. A Terra gira e arrasta consigo tudo que estiver sobre ela. Assim é com a câmera fotográfica que aponta para o céu com o obturador aberto, expondo o sensor digital.  Para manter um objeto centralizado por algum tempo é necessário que a câmera esteja assentada em montagem com mecanismo motorizado capaz de compensar esse movimento giratório. É também necessário que o eixo da montagem esteja alinhado com o eixo da Terra, apontando para o Polo Sul. Ao contrário do hemisfério norte, onde a estrela Polaris fica perto do polo e é visível a olho nu, aqui no hemisfério sul o ponto imaginário que marca o polo sul geográfico está situado numa região de poucas estrelas brilhantes e é tarefa árdua determiná-lo com a precisão necessária para permitir exposições fotográficas longas, com minutos de duração.

O Polo Sul  Nesta sequência de imagens obtidas com câmera munida de teleobjetiva 300mm f/6.3 montada em tripé fixo, a variação da sensibilidade (ISO) em conjunto com tempos longos de exposição, evidenciam o percurso giratório que as estrelas fazem à volta do polo sul.
imagem 1 – estrelas fixas - Exposição rápida de 60 segundos, ISO 1600, não há movimento aparente, as estrelas aparecem como pontos de luz Canon EOS D650 300mm  f/6.3 expo 60seg iso1600 22h54m18s 26maio17 
imagem 2 – estrelas em movimento - Com o aumento do tempo de exposição e a diminuição da sensibilidade, o movimento giratório se torna aparente. O tempo passa, a Terra gira e nesta exposição de 7 minutos, as estrelas próximas do centro permanecem fixas como pontos de luz, enquanto as laterais deslizam e aparecem como riscos. Canon EOS D650 300mm  f/6.3 expo 421seg (7.01min) iso200 22h58m01s 26maio17 
imagem 3 – estrelas giratórias  Nesta exposição de longa duração, as estrelas aparecem como riscos concêntricos, o rastro do percurso à volta do polo sul. A forma cometária dos traços das estrelas aparentando cauda, se deve a condensação gradual da umidade na lente da câmera, ofuscando e diminuindo a entrada de fótons ao longo dos 50 minutos de exposição. A forte presença de ruído digital em forma de fundo avermelhado deve-se em parte à crescente poluição de luz artificial de sódio e mercúrio espalhada na atmosfera e à elevação térmica do sensor digital da câmera ao permanecer aberto por tanto tempo. Canon EOS D650 300mm f/6.3 ISO 100 3.007,9seg (50min13seg) 23h19m29s 26maio17  
imagem 4 -  as estrelas aparecem - Ajustes no histograma para a eliminação dos pixels não aproveitáveis; rebaixamento do gama para manter o fundo escuro e operação dos controles RGB para destacar as cores, são ferramentas digitais  que permitem revelar detalhes não aparentes contidos na imagem crua.  Estrelas de várias magnitudes e classes espectrais, azuis (O,B), brancas (A,F), amarelas (G), alaranjadas (K) e vermelhas (M), tornam-se visíveis e se destacam criando círculos concêntricos que remetem ao centro em volta do qual tudo gira.
imagem 5 – as estrelas do polo - O recorte da imagem isola e destaca a área do local do polo sul.
Na imagem inversa, a classe espectral, magnitude e distância identificam as 8 estrelas mais brilhantes que formam um asterismo útil no  reconhecimento e guia da localização do polo.
imagem 6 – O Polo Sul Geográfico - Ampliação extrema para determinação estimada do ponto de localização do Polo Sul Geográfico.

Acompanhamento Sideral  Quando o eixo polar da montagem equatorial de um telescópio estiver apontado o mais próximo possível desse ponto, maior exatidão terá o acompanhamento sideral motorizado, compensando o movimento da Terra e mantendo a estrela, ou qualquer outro objeto celestial em qualquer parte do céu visível, centralizada na ocular ou na tela da câmera.
Alinhamento As montagens equatoriais necessárias para exposições de vários minutos possuem um orifício para a acomodação de uma pequena luneta polar que pode ser substituída pelo introdução de um apontador de laser verde para ajudar no alinhamento, desde que se saiba onde fica o local do polo.  Uma vez localizado, com a ajuda de um binóculos montado num tripé, a montagem pode ser posicionada com o facho do laser até que fique alinhada. O alinhamento necessário para exposições de longa duração também pode ser feito por alinhamento eletrônico e pelo método da correção da deriva, reposicionando a montagem em azimute e altitude.
Empilhamento da imagem –  Para contornar o limite máximo de tempo de uma exposição causado pelo acúmulo de ruído digital, falhas no mecanismo de acompanhamento e turbulência atmosférica, o empilhamento de várias imagens de menor tempo de exposição, capturadas em sequência com os mesmos parâmetros, permite trazer à tona detalhes revelados pela soma de todos os fótons capturados em cada imagem.
imagem 7 – Nebulosa da Cabeça do Cavalo -  O empilhamento de 5 imagens de 2m30s obtidas com câmera modificada, sem filtro infra vermelho, revela a luz vermelha característica da emissão dos átomos de hidrogênio energizados pela potente radiação da jovem estrela que destaca a coluna negra de gás e pó em forma de cabeça de cavalo.Telescópio Refletor 200mm f/4 Canon EOS D500 modificada expo 12min30seg (5x2,30min) ISO 1600 13Dez15 
imagem 8 - M42    Nebulosa de Orion –  Para capturar os detalhes tênues desta nebulosa de emissão, foi necessário, junto com a câmera sem o filtro infra vermelho, a utilização de um filtro de banda larga para barrar as emissões indesejáveis de sódio e mercúrio e aumentar o contraste. A utilização do filtro normalmente requer o dobro ou o triplo de tempo de exposição, como nesta imagem com tempo total de 52 minutos, somados no empilhamento de 13 imagens de 4 minutos.Telescópio Refletor 200mm f/4 Canon EOS D500 modificada + filtro banda larga DeepSky Lumicon expo 52 minutos (13x240seg) ISO 800 - 01Mar17 

AstrofotografiaCom a localização do Polo Sul e o alinhamento da montagem com acompanhamento sideral, a captura de exposições de longa duração, o empilhamento e as técnicas digitais de finalização da imagem para diminuir o ruído digital e extrair detalhes de objetos distantes, com orçamento moderado a astrofotografia está ao alcance de todos, trazendo à luz as maravilhas do incrível universo que nos rodeia.

comentários, ideias e sugestões são bem vindos  astroclube@gmail.com


terça-feira, 7 de março de 2017

      De Volta à Luz das Estrelas
    a recuperação de um telescópio

Em tempos de crise, dólar alto, imposto duplicando o preço dos importados e com nossas poucas lojas virtuais de acessórios astronômicos fechando, é enorme a dificuldade de aquisição de equipamento básico de qualidade para observação astronômica e astrofotografia e fiquei empolgado ao descobrir encostado aqui em Cunha no sitio do meu amigo Zé Luiz, um telescópio de porte, lindo tubo ótico branco de 1,5 m e 20 cm de abertura, montagem equatorial e tripé-píer de cor laranja bastante atrativo. Havia chegado às suas mãos em troca de uma caixa de vinho português, construído numa oficina no Planetário de São Paulo, o espelho polido pelo próprio dono, e usado num sítio no interior por bastante tempo até que foi substituído por um telescópio eletrônico. Daria para recuperar? Poderia voltar a nos contemplar com imagens celestiais?

Sem acessórios, nele nada se via, eixo ótico desalinhado, espelho comprometido, montagem com folgas nos eixos, marcas de uso por todos os lados. Em casa, sem hesitação, fui direto ao coração do instrumento, o espelho primário. Soltei os parafusos que prendiam a célula de madeira no tubo e logo confirmei o estado deteriorado do espelho, com presença de fungos.  Desmontado e embalado, o espelho foi enviado a Belo Horizonte para avaliação e re-aluminização muito bem sucedida pelo professor Bernardo Riedel, que também forneceu o espelho secundário oval. 

Para participar do trabalho de restauração, foi convidado o astrônomo amador e ferramenteiro aposentado, exímio construtor de acessórios e adaptadores para telescópios, amigo e parceiro astronômico, o Pepe, que acabou resolvendo todos os problemas mecânicos.


Para substituir o antiquado focalizador de pressão, de bitola mirim 0,965”, foi instalado um focalizador maior, de bitola 1,25”, com cremalheira para permitir ajustes finos e facilitar a observação   
      
A grande projeção externa do novo focalizador trouxe o ponto focal para fora e o espelho primário teve que ser reposicionado mais adiante no tubo. Foi feita a retirada de 15 cm de excesso, encurtando o tubo para 1,35m  

Foi dada especial atenção à outra crucial parte do telescópio, a montagem e o tripé, o mecanismo capaz de apontar para qualquer ponto do céu com estabilidade, sem vibração. Felizmente não foi encontrado nenhum eixo danificado e as folgas foram eliminadas com ajustes e lubrificação. Com o tubo e o contrapeso balanceados, o telescópio pode ser mantido em posição com apenas um leve aperto das travas

Desmontada e submetida à limpeza completa, a célula de madeira do espelho primário foi impermeabilizada para proteção contra umidade. A adaptação do novo focalizador exigiu o alargamento do furo no tubo ótico.

               
Pelo peso e tamanho, foi fundamental a substituição dos rodilhos para facilitar a locomoção e o posicionamento do instrumento.
Para facilitar a operação e melhorar a pontaria, foi instalado um apontador de laser verde para a primeira aproximação e uma buscadora provida de retículo para a centralização do objeto no focalizador
Sistema ótico refeito, focalizador novo, para explorar o potencial e assegurar desempenho compatível, foi disponibilizada uma maleta com oculares de 4 distâncias focais diferentes e um filtro polarizador ajustável para observação lunar
Finalmente, recuperado, na primeira brecha no céu chuvoso de verão, o belo instrumento viu sua primeira luz apontado para a Lua.  Balanceada e alinhada com o polo sul geográfico, a montagem equatorial permite com facilidade o reposicionamento rápido e constante do objeto na ocular. Com o eixo ótico colimado, produziu imagens lunares nítidas, com bom contraste mesmo na claridade da tarde, provando excelente configuração e sucesso no processo de polimento e re-aluminização do espelho primário.
Depois de muito tempo encostado e 3 meses de recuperação, de volta à vida o telescópio está pronto para retornar ao sítio do meu amigo Zé Luiz. A um custo abaixo de mil e quinhentos reais, foi recuperado um instrumento que tem como similar telescópios acima da faixa de três mil reais. Além do benefício do custo, a distância focal longa, de 1,30m, confere a este instrumento boa capacidade de magnificação e a razão focal f/6.5 a habilidade de produzir claras e nítidas imagens planetárias. Resta aguardar a chegada do frio para por à prova seus atributos e comemorar com champanhe sua volta à ativa no início da temporada de observação, com a chegada do frio, no céu escuro de Cunha.
Gilberto Jardineiro




domingo, 19 de fevereiro de 2017

8 noites abertas em Janeiro 2017

Olá astroamigos
No chuvoso janeiro que passou, foram apenas 8 oportunidades para abrir o observatório e na maioria delas o céu esteve apenas parcialmente aberto, ora com nuvens, ora com névoa e umidade. Era de se esperar - é verão e esse comportamento sol de manhã + nuvens de tarde + céu nublado de noite é padrão não só aqui em Cunha. Deve se prolongar até que as águas de março encerrem o verão. Mesmo com mais de 25% de aproveitamento (8 noites em 31 dias de janeiro), essas janelas de observação foram esparsas, com intervalos longos, de até 10 noites fechadas em sequência,  com sequência máxima de 3 noites seguidas com céu aberto. Com toda essa chuva e céu quase sempre fechado, não há programação nem agenda  que resista; não deu para acompanhar a conjunção de Vênus com a Lua no dia 2; não deu para fotografar Vênus no dia 12 em máxima elongação leste, e no dia 14 quando esteve metade iluminado (dicotomia), deu para fazer apenas uma imagem. Passou batida a oposição do asteroide Vesta na noite de 17/18 e tampouco deu para acompanhar a conjunção entre a Lua, Vênus e Marte no final da tarde do último dia do mês. Por aqui tampouco deu para ver o eclipse penumbral parcial da semana passada e a esperança é que no domingo dia 26 de fevereiro, dia do eclipse, haja Sol.
grande abraço a todos, céus claros
Gilberto Jardineiro
AstroClubeCunha

Aqui está o que deu para fazer nas 8 noites abertas de janeiro:

1ª noite – 01 janeiro – domingo – pré-conjunção Vênus + Lua
Canon, lente 55~250mm a 135mm, iso200 exposição 1/125






2ª noite – 04 janeiro – quarta – M42 ORION
única imagem feita com 5 minutos de exposição, iso800



3ª noite – 08 janeiro – domingo – Alinhamento
Com muita névoa, quase todo o tempo aberto foi dedicado ao alinhamento polar do telescópio com a correção da deriva equatorial. Nenhuma imagem foi feita.

4ª noite – 14 janeiro – sábado – Dicotomia de Vênus
Devido às condições precárias do tempo, não foi possível fazer capturas decentes do planeta meio iluminado e a única imagem foi obtida perto do horizonte.


5ª noite – 25 janeiro – quarta – Vênus
1 - Céu aberto no fim da tarde, captura de 3 vídeos de Vênus.


2 - 1º teste do filtro de banda estreita Oxigênio III (O-III), na 2ª parte da noite, em Eta Carinae


6ª noite – 27 janeiro – sexta
ORION M42 – Canon T1i modificada + filtro banda larga DSF (Deep Sky Filter) empilhamento 10 frames 120seg ISO800


7ª noite – 28 janeiro – sábado
ORION M42 - Canon T1i modificada + filtro banda estreita Oxigênio III (OIII) empilhamento de 10 frames 120seg ISO800 

8ª noite – 29 janeiro – domingo –
ORION M42 - Canon T1i modificada – mescla das imagens com filtro banda estreita Oxigênio III + filtro banda larga DSF Deep Sky Filter